19 de novembro de 2011

*

Pátria


Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro
Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exatidão
Dum longo relatório irrecusável

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento

E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

— Pedra rio vento casa 
Pranto dia canto alento 
Espaço raiz e água 
Ó minha pátria e meu centro

Eu minha vida daria
E vivo neste tormento


- Sophia de Mello Breyner Andresen -  

* Estamos todos tão precisados de esperança. E sim, falo no plural.