21 de abril de 2007

Cinememória 1

A primeira vez que vi o África Minha (Out of Africa) tinha 10 anos. Lembro-me de ficar vidrada no ecrã da televisão e de me ter emocionado muito. Com tudo... Com as personagens, as paisagens, a fotografia, a banda sonora... E de me ter apaixonado perdidamente pelo Robert Redford, paixão que perdura até hoje, é bom dizê-lo!

Na altura vi o filme dobrado em alemão, na RTL, anhinhada no sofá ao lado da Kathy enquanto nos lambuzávamos com uma lata de leite condensado! (Pergunto-me se ela ainda se lembrará dessa noite?)

Mais tarde voltei a ver o filme na versão original, com legendas em português e só então me apercebi do quanto tinha perdido na primeira vez que o vira. Ainda hoje não consigo entender essa mania de alguns países dobrarem tudo e mais alguma coisa, e olhem que eu sou uma defensora da nossa Lingua! Mas como é que é possível, por muito boas e fiéis ao original que sejam as dobragens, conseguir "imitar" as vozes da Meryl Streep ou do Robert Redford? Principalmente, neste caso, o trabalho prodigioso da Meryl que captou na perfeição aquele sotaque tão característico da Karen Blixen?! (quem já ouviu gravações da verdadeira Baronesa percebe o que eu quero dizer!)

Desde então, já perdi a conta ao número de vezes que o vi e revi. Prova disso mesmo, é a velhinha cassete VHS onde gravei o filme há já alguns anos, e que guardo religiosamente!

África Minha é um dos filmes da minha vida, daqueles a que eu volto sempre, assim como regresso sempre a um bom livro. Sim, eu sou uma daquelas pessoas que é capaz de ver os mesmos filmes repetidamente e ler livros que já sei de cor e salteado. Porque nunca se vê ou lê da mesma maneira, quer seja a primeira, a segunda ou a milésima vez...por mais que isso faça confusão à minha mãe...

E há diálogos que farão parte da minha memória e do meu imaginário para sempre...

Karen Blixen: If I know a song of Africa, of the giraffe and the African new moon lying on her back, of the plows in the fields and the sweaty faces of the coffee pickers, does Africa know a song of me? Will the air over the plain quiver with a color that I have had on, or the children invent a game in which my name is, or the full moon throw a shadow over the gravel of the drive that was like me, or will the eagles of the Ngong Hills look out for me?

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Baron Bror Blixen: You could have asked, Denys. Denys: I did. She said yes.

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Karen Blixen: Perhaps he knew, as I did not, that the Earth was made round so that we would not see too far down the road.

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Denys: You've ruined it for me, you know. Karen Blixen: Ruined what? Denys: Being alone.

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P.S. - Bons filmes e boas leituras...

20 de abril de 2007

O mundo de Sophia... (4)

É esta a hora perfeita em que se cala
O confuso murmurar das gentes
E dentro de nós finalmente fala
A voz dos sonhos indolentes.

É esta a hora em que as rosas são as rosas
Que floriram nos jardins persas
Onde Saadi e Hafiz as viram e as amaram.
É esta a hora das vozes misteriosas
Que os meus desejos preferiram e chamaram.
É esta a hora das longas conversas
Das folhas com as folhas unicamente.
É esta a hora em que o tempo é abolido
E nem sequer conheço a minha face.

- Sophia de Mello Breyner Andresen -

De costas voltadas não se vê o Futuro...

Pedro Abrunhosa - Quem Me Leva Os Meus Fantasmas

19 de abril de 2007

Poesia

És o nariz que me prolonga a testa.
O mundo não dá sombra além da tua
E quando nos meus olhos tudo é festa
Dormes comigo inanimada e nua.

Então, cinjo-te a mim, álgida, inteira,
Liberta de pecados.
E dispo-te em segredo...
Ó mensageira
Dos beijos ignorados!

- Pedro Homem de Mello -

Não fui eu que disse...mas poderia muito bem ter sido! (8)

" O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para isso que servem os caminhos, para nos fazerem parentes do futuro. "

- Mia Couto, in Terra Sonâmbula -